Os bastidores do Saturday Night Live

O programa Saturday Night Live (SNL) tem ditado os rumos da comédia americana desde sua estreia, em 1975. Os bastidores da criação do programa são mostrados, com profundidade, no livro-reportagem Saturday Night: A Backstage History of Saturday Night Live, de Doug Hill e Jeff Weingrad.

Publicado em 1985, a obra cobre a história dos primeiros dez anos do programa. Os autores realizaram entrevistas e pesquisaram em jornais, revistas e memorandos internos do show. O resultado é um relato rico em detalhes dos bastidores do SNL. Mas o retrato traçado está longe de ser abonador.

O programa que deu novo sentido à palavra cool não era tão cool assim. Gravado ao vivo, um episódio por semana, o SNL consistia de criatividade sob pressão. Isso trazia uma tensão que passava longe do humor que se via na tela. Os atores e escritores aguentavam uma carga de trabalho que não raro chegava a doze ou quatorze horas por dia — incluído aí o sábado, quando o programa era exibido.  À medida que os anos passavam, o estresse e a estafa tomaram conta dos artistas, que pouco a pouco perderam a energia criativa dos primeiros anos.

Não bastasse a carga de trabalho, a tensão nos bastidores era agravada pela competitividade. Não se reúne impunemente um grupo de talentosos. Doug Hill e Jeff Weingrad descrevem em detalhes os conflitos de ego por trás das câmeras. Os atores em especial aparecem como pessoas difíceis e vaidosas, bem longe da imagem pública que temos deles: John Belushi não raro agredia verbalmente produtores, pessoal de apoio e demais atores; Eddie Murphy se tornou amargo tão logo virou um milionário, aos 22 anos; Dan Aykroyd tinha rompantes de raiva, num dos quais chegou a pichar inscrições satânicas (!)nas paredes…

Para o clima tenso, contribuía também o uso de drogas. Segundo a pesquisa de Doug Hill e Jeff Weingrad, o uso de maconha e cocaína era diário nos escritórios do programa. Alguns dos artistas, como Laraine Newman, tornaram-se viciados. A maior vítima das drogas no entanto foi John Belushi, que morreria de overdose em 1982, dois anos depois de ter saído do Saturday Night Live para uma carreira no cinema.

O uso de drogas fazia parte do clima de contracultura do SNL, que trouxe à TV o humor da geração baby boomer. Os baixos índices de audiência no início ajudaram a que o show tivesse um humor corrosivo e politicamente incorreto; afinal, havia pouco a perder. No entanto, como Doug Hill e Jeff Weingrad demonstram, o sucesso comercial levou o programa a se tornar mais conservador, devido ao risco de perder anunciantes. Isso se refletiu na cultura de trabalho, em especial dos atores, que, à medida que passavam de párias na vida a astros, ficavam cada vez mais difíceis e inacessíveis.

O estilo de Saturday Night: A Backstage History of Saturday Night Live não me agradou muito. Achei as sentenças pesadas, e a escolha vocabular muitas vezes não é a mais apropriada para a elegância do texto. Mas o conteúdo é tão detalhado que manteve minha curiosidade.

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