Pontos de Vista, de Wilson Martins: polêmicas no calor do debate literário

Wilson Martins

O crítico literário Wilson Martins

Depois de alguns anos, finalmente terminei de ler os 14 volumes da série Pontos de vista: crítica literária (São Paulo: T.A. Queiroz, 1991 – 1996), que reúne as críticas literárias publicadas na imprensa brasileira, entre 1955 a 1996, pelo crítico Wilson Martins (1921 – 2010).

Os livros documentam o debate literário no período, mas, principal e infelizmente, atestam a decadência da literatura brasileira.

No período abrangido, Wilson Martins avaliava, a cada semana, as obras literárias contemporâneas, ou seja, lançadas no momento mesmo e, por isso, de consagração e futuro incertos.

É no calor do debate literário da época, portanto, que o crítico considerava Guimarães Rosa um escritor superestimado (quando os demais críticos ainda estavam fascinados por Grande sertão veredas, recém-saído do prelo); combatia ferozmente os poetas concretistas (quando o grupo era o mais influente na cena literária brasileira, em especial em São Paulo); e chamava atenção para as qualidades técnicas de Érico Veríssimo (quando o restante dos críticos, enganados pela simplicidade [só aparente] do estilo do escritor gaúcho, ainda não as haviam percebido.)

Wilson Martins escreve em um português objetivo e límpido, e suas posições constroem-se com argumentos que se amparam em ampla bagagem literária.

No entanto, há um lado triste em ler estes livros, especialmente o último: acompanhar a decadência progressiva do ambiente literário brasileiro. Os grandes escritores do passado desaparecem, ou caem em esterilidade criativa, e pouquíssimos nomes novos aparecem para substituí-los. Ao mesmo tempo, a literatura perde espaço na sociedade brasileira e é substituída pelas artes performáticas, em especial a música popular (a trajetória de Vinícius de Moraes no período, de poeta erudito a cantor de bossa nova, a própria personificação disso, como pontua Wilson Martins.)

No que se refere a método, o crítico julgava as obras tendo como parâmetro as exigências técnicas de cada gênero, conforme consolidadas nas grandes obras do passado (o “cânone), mas sem perder de vista o estágio contemporâneo da literatura — literatura que para ele era algo vivo, em constante diálogo tensional entre a evolução e a tradição. Wilson Martins também considerava as características do mercado editorial, por entender que a arte literária, para além das ideias e concepções, também é resultado do ambiente comercial em que é produzida.

A série Pontos de vista propicia um mergulho num Brasil em que a literatura ocupava lugar de prestígio. Algum dia voltará a ocupá-lo?

P. S.: Um leitor entrou em contato e me avisou que a série Pontos de Vista tem 15 volumes. Não disponho do último, que não veio incluído na coleção que adquiri em sebo.

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