O último levantamento do PublishNews referente ao mercado editorial brasileiro em 2018 joga por terra a ideia, disseminada em não poucos círculos, de que brasileiros não são grandes consumidores de ficção.
Pelo contrário.
Segundo os dados (ver gráfico), livros de ficção ocuparam o terceiro lugar de vendas no ano, com participação de 19% no mercado. O primeiro lugar ficou com obras de autoajuda (28%). Em segundo vieram as infanto-juvenis (21%), em quarto as de negócios (17%) e em quinto as de Não-Ficção (15%).

Ocupar o terceiro lugar em vendas, num ano em que foram vendidos 5,7 milhões de exemplares, já é relevante por si só. A surpresa maior no entanto é que os livros de ficção mais vendidos em 2018 tenham sido de autores nacionais, o que quebra outro mito: o de que os leitores brasileiros preferem ficcionistas estrangeiros.
Mais surpreendente ainda é que o livro mais vendido dentre os de ficção, “Textos cruéis para serem lidos rapidamente”, seja um livro de poesia, gênero tido como de venda difícil. Trata-se de uma coletânea de poemas publicados em redes sociais, ou seja, que se utilizou dos meios digitais na produção e divulgação – e talvez isso explique o sucesso.
Os dados me levam a refletir em algumas verdades do mercado editorial, ditas e repetidas. A primeira delas, já referida, é a de que brasileiro prefere ler Não-Ficção, isto é, biografias, livros-reportagem, ensaios, estudos etc. A pesquisa não endossa essa impressão, que talvez seja só reminiscência de tendências anteriores do mercado.
A segunda verdade a se refletir, também já mencionada, é a de que os leitores brasileiros preferem ficção escrita por estrangeiros. Isso simplesmente não se reflete nos livros de ficção mais vendidos. É complicado concluir algo sem dados mais completos, que ainda irei buscar (quanto de ficção nacional está nestes 19%?), mas lanço as perguntas:
- Será que a estratégia adotada pelas editoras nos últimos anos, de pagar caro pelo direito de publicar autores estrangeiros, com traduções também caras, não está errada?
- Investir no autor nacional não seria uma estratégia mais lucrativa, já que se eliminam os custos de compra de direitos e tradução?
- Com as vantagens que o marketing digital oferece, a custo baixo, não é possível fazer um autor nacional alcançar um público amplo, como parece ter sido a estratégia usada pela coletânea de poemas?
O mercado editorial passa nesse momento por uma transição. Talvez seja hora de jogarmos fora algumas ideias preconcebidas, nunca questionadas, e arriscarmos novas soluções.
Mais informações sobre a pesquisa podem ser acessadas aqui: https://goo.gl/jKyHex